É extraordinário o marasmo em que os meios de comunicação social da praça portuguesa caíram. Após a «purga» que assolou a maioria dos meios de comunicação social portugueses, dos generalistas aos económicos e até aos especializados, TVs, rádios e jornais, tirando raríssimas excepções, viram-se mergulhados numa apatia incaracterística das suas funções naturais. A braços com enormes problemas financeiros, a maior parte dos jornais e das revistas perderam a função de interpretar o mundo.
A morte dos meios de comunicação social em Portugal
Inundadas de estagiários, a maioria convencidos de que já sabem tudo, um mês depois de saírem da faculdade, as redacções dedicam o tempo a «picar» press releases da Lusa e a «engolir» tudo o que as agências de comunicação tentam fazer passar dos seus clientes.
As entrevistas são propostas pelos próprios entrevistados, a agenda é a mesma para a grande maioria dos jornais.
A crise, a queda abrupta dos preços da publicidade, os consequentes cortes de pessoal e a total incapacidade de lidar com o fenómeno da Internet, levaram os meios de comunicação social a uma crise maior do que a financeira, uma crise de funções e de valores.
O acto de informar passo a ser leviano, funcional, amorfo e até ineficaz.
Os jornais deixaram de ter notícias para ter apenas «conteúdos»
Deixou de haver vontade de ler nas entrelinhas, de analisar, de interpretar, de informar com cabeça, tronco e membros, de levantar questões e, acima de tudo…de interrogar. As notícias são passadas e difundidas nos jornais, como se de meros blogues se tratassem, muitas vezes, sem qualquer tipo de tratamento jornalístico.
Vejamos um exemplo: quase todos os meios de comunicação social «vomitam» notícias sobre a queda do desemprego, ao ponto da opinião pública «robótica» garantir, em uníssono, que o desemprego está a baixar. Não houve um único, entre todos os iluminados meios de comunicação social, que colocasse os números em causa.
A crítica e a análise deixaram de fazer parte da agenda da maioria dos jornais
Ninguém se inquiriu para onde foram as pessoas que deixaram de fazer parte daquele número. Ninguém falou sobre a influência do fenómeno da emigração, dos desempregados que deixaram de receber o subsídio, dos desempregados em formação ou das reformas antecipadas. Ninguém o fez ou porque dá muito trabalho e não há recursos ou porque não interessa…
O que é facto é que os meios de comunicação social não fizeram o seu trabalho, informaram mal e deixaram o seu papel por mãos alheias. Ninguém se deu ao trabalho de analisar os números e de desmontar uma mensagem propagandística e falsa. Todos «foram na onda», sem pestanejar. Este é apenas um dos exemplos, muitos outros poderiam ser aqui difundidos.
A verdade é que os meios de comunicação social nacionais estão uma sombra do que já foram.
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