A Comunicação Social portuguesa e o condicionamento de informação
Percorrendo, mesmo sem grande atenção, qualquer órgão de informação de Comunicação Social portuguesa, a par da notícia ou informação que a edição pretende fornecer reparar-se-à nalgum condicionamento de informação, de diversa natureza, associado. Poderemos considerar vários tipos de informação, mas para verificação da condicionalidade aqui proposta, consideremos apenas a informação de natureza unicamente objectiva (descritiva apenas de factos concretos) e a que imediatamente associa juízos de valor. A título de exemplo, uma notícia factual: “Nelson Évora vence concurso de triplo-salto, com 17.67 de marca, e torna-se o quarto campeão olímpico português.” Mas facilmente o editor da notícia, mantendo o carácter informativo, pode acrescentar-lhe juízo de valor: “Nelson Évora vence concurso de triplo-salto, com 17.67 de marca, não dando hipótese à concorrência, e torna-se o quarto campeão olímpico português.” Salta à vista, e não precisa de ser triplo, a diferença entre estas duas informações. A primeira deixa-nos apenas os simples factos e depois poderemos na leitura do desenvolvimento da notícia tentar perceber e julgar que tipo de hipóteses teve a concorrência de Nelson Évora se existir a preocupação de fornecer a informação factual de relevo. Mas a segunda já nos está a condicionar para um juízo, se calhar do mesmo tipo que condicionou o editor da notícia ou a estrutura superior de edição do órgão de Comunicação em causa. Neste caso o condicionamento de informação até se pode considerar inofensivo considerando o público alvo desta notícia, se excluirmos a concorrência de Nelson Évora. Outro exemplo: “Ronaldo recebe a Bota de Ouro. Só lhe falta ser o melhor do Mundo.” Que o jogador recebeu a Bota de Ouro é informação objectiva, se, à altura da conquista do título por parte do atleta, dizer ou escrever que só lhe falta ser o melhor do Mundo já nos mostra condicionamento de informação. No entanto, e mais uma vez, do tipo inofensivo, se considerarmos que não existia outro português candidato a melhor jogador do Mundo à data, e que o termo “só lhe falta” não é depreciativo mas sim a criação da expectativa de que Cristiano Ronaldo teria condições para atingir esse estatuto. Mas aqui já temos outra vez o efeito de condicionamento: E se Ronaldo nunca tivesse conseguido o estatuto de melhor jogador do Mundo?
Taxa de retorno da informação
O grande problema, que se poderá aprofundar em futuras análises deste tema, surge quando o condicionamento de informação tem, sem inocência, um objectivo por parte de quem fornece a notícia. Desde logo o primeiro é a conquista da atenção dos leitores, ouvintes ou espectadores. Sim, porque as Televisões, Rádios ou Imprensa são criadas para dar lucro, directo ou indirecto. E é a expectativa da taxa de retorno de informação que a condiciona logo à partida. E esta taxa, infelizmente, representa para o jornalismo a taxa de sobrevivência única. Neste sentido qual é o limite? Pode condenar-se algum órgão de Comunicação Social por permitir a expressão de opinião pessoal, seja declarada ou disfarçada? Faz sentido, como por ideologia o deveria ser, que, por exemplo, uma publicação desportiva sediada a Norte dê honras de principal destaque na primeira página a um feito de uma equipa do Sul; ou o inverso, uma publicação da mesma índole no Sul ter esse
comportamento com uma equipa nortenha? Poderá fazer, dependendo dos estudos de mercado realizados sobre a demografia da taxa de incidência dos adeptos de determinado clube numa determinada zona. E eis-nos, a partir daqui, confrontados com vários tipos de condicionamento de informação. E se mudarmos de tema para política, finanças ou outro, a questão permanece.
Comentar