A minha ida ao Médio Oriente resultou de uma vontade intrínseca de querer estar no “centro do mundo“. Sim, no centro do mundo!
Há já algum tempo que esse desejo crescia de forma desmesurada, mas consistente e sólida. Ainda que não o possa desligar da minha vertente histórica, esse bicho que me “rói” a alma, esse anseio teve a ver com a minha vocação para uma busca incansável do “metasocial”.
Talvez não se trate tanto de uma questão filantrópica, mas antes de uma conversão ao puramente social. Sim, eu sou um bicho altamente socializante e comungo em plenitude da filosofia aristotélica de que a sociabilidade faz parte da natureza humana e que necessitamos tanto dela, como de ar para respirar.
Não que eu tivesse pretensão de conseguir “sociabilizar” com israelitas e palestinianos, mas a minha curiosidade em saber mais e melhor sobre a “sociabilidade” no centro do mundo, onde a paz não tem morada, era sem dúvida tão trivial como incomensurável.
Não me enganei, ali era mesmo o centro do mundo! O epicentro de crenças, vontades, desejos, coragem e resistência como nunca antes tinha visto!
Uma viagem aos dois lados de um mesmo mundo…
Numa cidade como tantas outras, Telavive, o sol que raiva às 6h da manhã era um tanto mais forte do que noutras cidades e adivinhava um dia capaz torrar qualquer alminha mais desprevenida.
Jerusalém, ali mesmo no centro do mundo, pareceu-me uma cidade convidativa e hospitaleira, mas prenhe de movimento, com muitos rostos e muita vida por desvendar!
Falar de Jerusalém não é fácil. Podia ser uma cidade como tantas outras que existem no mundo, mas não é!
Ali, muita história aconteceu e acontece! Ali tudo era rápido e cheio de incertezas, mas também cheio de equilíbrio e consistência. É difícil descrever, muito difícil!
Alia, sente-se a latência de um povo em sobressalto, mas também em harmonia com a vida, agradecido com a dádiva conquistada.
Do outro lado, do lado de lá do muro, de uma fronteira construída sobre o ódio e o sofrimento, sobre a angústia e o medo, outros sofrem a mesma dor, abraçados a outra crença, a outra voz…
Ali, no centro do mundo, não há meias medidas, é tudo ou o quase nada!
Coragem e temor em ambos os lados do muro!
Henrique Cymerman não poderia ter escolhido melhor título para mostrar ao mundo o brilhante trabalho que tem vindo a fazer como jornalista, no local mais periclitante do mundo!
Foi com enorme surpresa e agrado que comecei a ler as suas entrevistas, realizadas no centro do mundo. Para além de uma escrita jornalística de enorme qualidade e distinção, a obra dá-nos uma visão clara, isenta e imune aos sentimentos (tão difíceis de conter!) sobre o conflito israelo-árabe.
Para o leitor que desejar perscrutar com maior acuidade os movimentos, valores e pretensões no Médio Oriente, onde não é possível dormir e acordar completamente descansado, esta é sem dúvida uma obra obrigatória.
A capa do terrorismo, o pavor da denúncia, a incerteza do improvável, a esperança de um amanhã de paz e sossego, a verdade incontida nas palavras andam de braços dados com uma vida de amor ao próximo e de uma coragem desmedida, em ambos os lados do muro!
Comentar