Domínio da arte
Cinema. Arte. Interior versus exterior; indivíduo-artista versus colectivo, intuição versus aprendizagem cultural. Opostos que compõem o domínio da arte e podem ser vistos como a afirmação de certos valores nos quais assenta a sociologia. Quando se pensa sociologicamente n(a) arte, o crítico encontra dois importantes caminhos metodológicos:
- percebê-la como fenómeno colectivo, habitado pelo social, determinado pelas propriedades enraizadas em uma cultura;
- abrir os campos do estudo com a finalidade de agarrar a arte também como objecto, tal qual como fazem, vivem, os seus actores (Heinich, 1998).
Reflexão
A intercepção entre as duas esferas acima referidas levam-nos à noção de hermenêutica, que compreende o acto da leitura, ou seja, o momento da troca da experiência estética e o seu efeito sobre o destinatário – o leitor. Considerando que a natureza da obra de arte é essencialmente comunicativa, que pressupõe um receptor, o objecto da sociologia aqui aplicada está relacionado com o como se recebe no âmbito do cinema e, nesta perspectiva, a recepção cinematográfica circunscrita à crítica.
E aqui existem duas especificidades e contextos:
- a que defende o cinema de autor (instituído em meados da década de 1950 pela política dos autores);
- a contemporânea, quando críticos e pensadores sugerem o risco de extinção – tanto da crítica como do próprio cinema.
(Discutir os pressupostos da crítica como instituição, ou seja, pensar n(o) cinema mais através dos seus contextos sociais de circulação e recepção do que a partir de análises internas e reflexões conceptuais.)
Crítica cinematográfica: a discussão
O fundo da discussão é a imagem, imagem como metáfora, de curto-circuito cultural que tem a base da sua fundamentação, sugerida por Pierre Bourdieu (1987), na pergunta: podemos ler, o que quer que seja, sem perguntarmos o que está a ser lido, ou melhor, sem perguntarmos sobre as condições sociais de tal leitura? A interrogação sobre as condições da leitura conduz a outra pergunta: a das condições sociais de produção da obra.
Decifrar estas duas questões levanta ainda uma outra, e terceira, questão que se dirige às condições sociais, à formação, dos leitores-espectadores: até que ponto elas afectam a leitura que estes fazem das obras ou dos documentos que utilizam? Assim, com base nos papéis do cineasta e da crítica cinematográfica, o circuito (curto) aqui proposto é este entre um leitor formado que lê um leitor formado.
Este mecanismo dá-se entre os dois agentes: o cineasta, que a partir da sua recepção do real (ou da sua vivência) cria imagens identitárias (que envolvem contextos nacionais) e o crítico – que recebe as tais imagens e delas recria novos imaginários acerca de significados sobre a realidade e a identidade.
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