Na depressão da actualidade portuguesa há mulheres mais novas e homens mais velhos: ninguém escapa à depressão.
Entre 2004 e 2012 os estudos do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge são claros: há um aumento dos novos casos de depressão sobretudo nas mulheres com mais de 45 anos e nos homens com idades a rondar os 60 anos.
O maior crescimento
Apontam os estudos para um maior crescimento da depressão entre os homens com idades entre os 55 e os 64 anos, que passaram de perto de 300 casos em 2004 para cerca de 800, por 100 mil habitantes, em 2012. Isto significa que entre os homens são os deste grupo etário os mais afectados pela depressão.
Já no que concerne às mulheres, as idades mais atingidas pela doença passaram a ser as que têm entre os 45 e os 54 anos, com mais de 1700 casos, por cada 100 mil habitantes, contra os cerca de 1000 de 2004.
Conclusões tortas do estudo
Os especialistas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge sublinham que os resultados revelam «uma coincidência temporal entre o aumento da taxa de incidência estimada de primeiros episódios de depressão nos cuidados de saúde primários e o agravamento das condições sociais e económicas em Portugal».
Bem visto, quando é que começou a crise – ou, pelo menos, quando é que homens e mulheres portugueses começaram a sentir na pele os efeitos da política do Governo de Pedro Passos Coelho na crise europeia?
Por acaso convinha definir muito bem os períodos políticos para se ter a noção de que a depressão aumentada com a crise não terá propriamente que ver com outros governos anteriores ao actual: a depressão, o aumento dos suicídios – ou tentativas -, o aumento da criminalidade e, pois claro, o aumento das doenças do foro mental a par das físicas provocadas, por exemplo, pela má nutrição em consequência do aumento do desemprego e do assassinato do estado social, é um subproduto do Governo de Pedro Passos Coelho.
Reformulem os pressupostos dos estudo, vá lá, ou de outra forma ganham mais uma mulher a sofrer de depressão: eu.
Especialistas no bom caminho
Os especialistas dizem ainda que é preciso monitorizar a evolução da depressão e estudar a suas causas em Portugal, nomeadamente porque existe evidência cientifica de que «em contexto de crise os homens estão em maior risco de desenvolver doenças mentais».
Talvez se explique, digo eu, pela cultura daquilo que é ser o homem da casa e o chefe da família. Digam-me lá, homens que me estão a ler, não é desesperante chegar a casa – ou será, neste momento, mais não chegar a sair de casa – sem poder comprar os livros para a escola nem as sapatilhas já rotas do seu filho? Pois. É que as mulheres, não me levem a mal, lidam bem melhor com os problemas (e isto apesar dos aumentos referidos nos estudos se referirem à depressão em homens na casa dos sessenta e a mulheres na dos cinquenta).
Futuro
A cura da depressão, ou pelo menos a sua travagem, está no futuro – nos votos para a eleição de políticos competentes e conscientes.
O bastonário da Ordem dos Psicólogos explica que os resultados deste estudo fazem sentido com a realidade sentida pelos psicólogos que notam, por exemplo, um aumento da procura nos serviços públicos de pessoas atingidas pela depressão e relaciona a doença com o desemprego.