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25 de Abril na Rádio: Uma Viagem Sonora pela História e Cultura

25 de Abril na Rádio: Uma Viagem Sonora pela História e Cultura

RADIO | 24 de Outubro, 2025

LEITURA | 23 MIN

Este artigo mergulha na rica história da rádio em Portugal, com um foco especial nas suas memórias e vozes ligadas ao 25 de Abril. Vamos explorar como as ondas radiofónicas moldaram a cultura e a informação, desde os tempos do Estado Novo até à era digital. Prepare-se para uma viagem sonora que atravessa décadas de acontecimentos marcantes, com destaque para a revolução que trouxe a liberdade ao país. A 25 de abril radio é mais do que um tema; é um portal para entender Portugal.

Pontos Chave

  • O programa “De Cravo ao Peito” da Antena 1 oferece uma viagem sonora detalhada sobre o período entre 1972 e 1976, cobrindo os eventos que levaram ao 25 de Abril e a construção da democracia.
  • A rádio, especialmente a Emissora Nacional durante o Estado Novo, foi um instrumento político usado para informar e, por vezes, manipular. Vozes históricas foram censuradas, mas outras encontraram formas de se expressar.
  • A música sempre teve um papel central na rádio pública, desde a formação de orquestras e a descoberta de talentos até à sua presença nos canais internacionais.
  • A rádio desempenhou um papel vital na ligação entre Portugal e o mundo, especialmente através da RDP Internacional e RDP África, mantendo laços afetivos e informativos com a diáspora e os países de língua oficial portuguesa.
  • A rádio pública continua a sua evolução, adaptando-se ao digital e a novas plataformas, provando a sua resiliência e capacidade de alcançar novas audiências, mesmo com a ascensão da internet.

1. De Cravo ao Peito: Uma Viagem Sonora de 1972 a 1976

O programa «De Cravo ao Peito» é uma iniciativa da Antena 1 que se propõe a revisitar o período crucial entre 1972 e 1976, um tempo que antecedeu e seguiu a Revolução dos Cravos. A ideia é fazer uma viagem sonora, usando o vasto arquivo da rádio pública para contar as histórias que levaram ao 25 de Abril e os primeiros passos da democracia.

O projeto começou em março de 2022 e está planeado para ir até dezembro de 2026, acompanhando as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. O objetivo é chegar a toda a gente, seja quem viveu esses tempos ou quem quer perceber melhor a importância da liberdade hoje em dia. O autor, Mário Galego, explica que o trabalho envolve muita pesquisa para encontrar os sons que marcaram cada período, juntando-os com entrevistas e reportagens atuais.

Alguns dos episódios já apresentaram material sonoro que nunca tinha sido divulgado antes. Por exemplo, houve gravações de interrogatórios da PIDE/DGS, a polícia política do Estado Novo, que mostram como os inspetores interagiam com as pessoas. Outros episódios trazem as memórias de quem viveu acontecimentos importantes, como a Vigília da Capela do Rato ou o III Congresso da Oposição Democrática.

Para 2025, o programa vai focar-se em eventos como o golpe falhado de 11 de março de 1975, as eleições para a Assembleia Constituinte, as independências de países africanos de língua oficial portuguesa e Timor-Leste, o chamado «Verão Quente», o plano «Maria da Fonte», o fim do PREC e o 25 de novembro.

Esta viagem sonora não é apenas um registo histórico; é um convite à reflexão sobre os caminhos percorridos e a fragilidade da liberdade conquistada, utilizando a rádio como veículo para a memória coletiva.

O programa pode ser ouvido mensalmente na Antena 1 e também está disponível em formato podcast, tornando a história acessível a um público mais vasto e diversificado.

2. As Vozes Históricas e Proibidas da Rádio

A rádio, desde o seu início, foi um palco para vozes que moldaram a opinião pública e contaram a história do país. No entanto, nem todas as vozes tiveram o mesmo espaço ou a mesma liberdade. Durante o Estado Novo, a Emissora Nacional (EN) era um reflexo do regime, e o controlo sobre o que era dito era rigoroso. Locutores e jornalistas que ousavam expressar opiniões divergentes ou que mantinham ligações com entidades estrangeiras, como a BBC, podiam ver a sua carreira interrompida abruptamente.

Um exemplo notório é o de Fernando Pessa, que após o seu trabalho na BBC durante a Segunda Guerra Mundial, onde se destacou pelos seus relatos e até paródias, enfrentou escrutínio e afastamento. Outro caso marcante é o de Igrejas Caeiro, que nos anos 40 foi afastado da EN por ter subscrito um documento que pedia eleições livres. Mesmo fora da rádio pública, o seu trabalho continuou a ser vigiado, mas ele encontrou eco no Rádio Clube Português (RCP), dando voz a quem discordava do regime.

O controlo da informação era uma ferramenta poderosa para o regime, especialmente num país com elevadas taxas de analfabetismo, onde a rádio era o principal meio de comunicação de massas.

Estas vozes, embora silenciadas ou marginalizadas na rádio oficial, representam a resistência e a busca pela liberdade de expressão. A sua história é um testemunho da importância da rádio como espaço de debate e da luta pela democratização da comunicação.

  • Fernando Pessa: Afastado por ligações à BBC e relatos da Segunda Guerra Mundial.
  • Igrejas Caeiro: Removido da EN por apoiar a exigência de eleições livres.
  • Vozes Proibidas: Radialistas e jornalistas que foram censurados ou afastados por motivos políticos.

3. A Música na Rádio Pública: Do Éter ao Algoritmo

A relação entre a rádio pública e a música é antiga, quase tão antiga quanto as próprias emissões. Desde os primórdios, a música não foi apenas um complemento, mas sim um pilar fundamental da programação. A Emissora Nacional, ainda em 1934, antes mesmo de começar as emissões regulares, já planeava a sua estrutura musical. Criou-se uma comissão que não só preparou a programação futura, mas também contratou artistas e formou uma orquestra sinfónica, entregue ao maestro Pedro de Freitas Branco. A isto juntaram-se outras formações, como orquestras menores, de salão, de câmara e septetos. No total, nos primeiros anos, cerca de 85 músicos faziam parte dos quadros, cobrindo um leque que ia da música erudita à popular.

A rádio teve um papel ativo na descoberta e promoção de talentos, moldando a canção ligeira portuguesa. A criação de espaços como o Centro de Preparação de Artistas e a própria Orquestra da RDP foram passos importantes. Mais tarde, canais como a Antena 3 surgiram como plataformas para novos músicos e para a divulgação de talentos emergentes, expandindo a sua atuação para a criação de conteúdos em vídeo, tanto para online como para televisão.

A evolução técnica trouxe mudanças significativas. A transição das ondas curtas e médias para o FM, e mais recentemente para o digital, alterou a forma como a música chega aos ouvintes. A inteligência artificial começa agora a ter um papel, levantando questões sobre o que define a rádio na era atual.

O percurso da música na rádio pública pode ser visto em várias frentes:

  • Formação e Orquestras: A criação de orquestras sinfónicas e outras formações residentes, que interpretavam desde música clássica a temas mais ligeiros.
  • Descoberta de Talentos: Espaços dedicados à preparação de artistas e à divulgação de novos músicos, como a Antena 3.
  • Impacto na Indústria Musical: A influência da rádio na evolução da própria canção popular portuguesa e na carreira de muitos artistas.
  • Adaptação Tecnológica: A migração do som da rádio, e consequentemente da música, do éter para as plataformas digitais e algoritmos, repensando o seu alcance e formato.

4. Escutar o País Profundo: A Rádio e o Território Nacional

A rádio, desde sempre, teve um papel importante em ligar as pessoas, especialmente em Portugal, onde as distâncias podiam ser grandes e as comunicações nem sempre fáceis. Pensemos nas zonas mais remotas, nos campos, nas aldeias. Como é que as notícias chegavam lá? Como é que as pessoas se sentiam parte de um país maior?

Antigamente, a rádio pública tentava mesmo chegar a todo o lado. Depois do 25 de Novembro de 1975, houve uma grande mudança. Muitas rádios foram juntadas à Emissora Nacional, criando uma empresa pública. A ideia era que a rádio chegasse mais perto das pessoas, em todo o país. E não podemos esquecer as rádios piratas, aquelas que emitiam sem licença. Elas foram muito importantes na luta pela liberdade de expressão e ajudaram a mudar o mapa da rádio em Portugal, dando voz a quem antes não a tinha.

Hoje, a situação é um pouco diferente. Um estudo de 2022 mostrou que mais de um terço dos concelhos em Portugal não tem uma estação de rádio com notícias locais. E metade do país não tem cobertura de correspondentes da rádio pública. Isto mostra que ainda há um caminho a percorrer para que a rádio chegue a todos os cantos.

Mas a rádio continua a tentar. Há histórias de como a rádio se aproximou do "país profundo", como chamam. Por exemplo, em Abrantes, houve gente que lutou muito para que as rádios livres fossem legais. Chegaram a ter o Presidente da República, Ramalho Eanes, a participar num momento gravado. São memórias que mostram como a rádio sempre quis estar perto das pessoas.

A rádio tem a capacidade única de transportar o ouvinte para onde quer que a notícia ou a música o levem, criando uma sensação de presença e pertença, mesmo em locais distantes dos grandes centros urbanos.

O que é, afinal, esse "país profundo"? São os sons de uma quinta no Algarve, a vida nas aldeias, as preocupações das pessoas mais simples. A rádio tem a tarefa de escutar e dar voz a essas realidades, mostrando que Portugal é feito de muitas histórias diferentes, e não apenas das que acontecem nas grandes cidades. É um desafio constante para a rádio pública: trazer mais do país para dentro das suas emissões.

5. O Teatro e o Humor na Rádio: Três Atos e Três Antenas

A rádio pública, ao longo dos seus 90 anos, foi palco de inúmeras manifestações culturais, e o teatro e o humor ocupam um lugar de destaque nesta narrativa sonora. Podemos pensar nesta história em três atos, cada um associado a uma antena principal, que refletem a evolução e a importância destes géneros nas ondas hertzianas.

O primeiro ato remete-nos para o início do teatro radiofónico, com adaptações de clássicos, folhetins e quadros de revista. Era uma época em que a imaginação do ouvinte era o principal cenário, e a voz dos atores construía mundos inteiros. Seguindo as pistas deixadas por Eduardo Street no seu livro "O Teatro Invisível", percebemos como esta forma de arte se desenvolveu, cativando audiências e moldando a cultura popular. O teatro radiofónico, em particular, foi um veículo poderoso para a disseminação da cultura e da literatura, tornando acessíveis obras que, de outra forma, poderiam permanecer restritas a um círculo mais limitado.

O segundo ato foca-se no humor, um elemento que, embora muitas vezes tenha nascido fora da rádio pública, encontrou nas suas antenas um espaço de expressão e crescimento, especialmente no período pós-25 de Abril. Antena 1 e, de forma mais proeminente, Antena 3, foram cruciais para o desenvolvimento do humor radiofónico em Portugal. Sketches, sátiras e programas de comédia tornaram-se parte integrante da programação, oferecendo um espelho crítico e divertido da sociedade.

O terceiro ato representa a transição para a era moderna, onde o teatro radiofónico, embora menos proeminente, encontra refúgio na Antena 2. Este canal tem mantido viva a chama do teatro nas ondas, adaptando-se aos novos tempos. A história do humor na rádio é uma prova da sua resiliência e capacidade de adaptação, mostrando como a comédia pode ser um reflexo da sociedade e um meio de entretenimento duradouro. A rádio pública, através das suas diferentes antenas, tem sido um guardião destas formas de expressão artística, contribuindo significativamente para o património cultural sonoro do país. A sua capacidade de se reinventar, mantendo a essência, é um testemunho da sua importância contínua na comunicação e cultura portuguesa, como celebrado nos 90 anos da rádio pública.

6. De Portugal Para o Mundo: A RDP Internacional e África

A RDP Internacional e a RDP África foram, e continuam a ser, pontes sonoras essenciais, ligando Portugal a uma vasta comunidade global e, em particular, aos países africanos de língua oficial portuguesa. Numa época em que a comunicação instantânea era um sonho distante, a onda curta da Emissora Nacional, precursora da RDP Internacional, desempenhava um papel vital. Não só mantinha os laços afetivos entre emigrantes e as suas famílias em Portugal, através de programas como a "Hora da Saudade", mas também servia como um elo de ligação para os marinheiros portugueses, como os da frota bacalhoeira, que enfrentavam os perigos dos mares da Terra Nova.

O alcance destas emissões ia além do mero entretenimento ou da saudade; era uma ferramenta de coesão nacional e de projeção da cultura portuguesa. A RDP África, por sua vez, consolidou essa ligação com o continente africano, adaptando a sua programação às realidades e necessidades das comunidades lusófonas. A transição para o digital não diminuiu a sua importância; pelo contrário, permitiu uma maior acessibilidade e diversidade de conteúdos, alcançando novas gerações e reforçando a presença da rádio pública no panorama mediático internacional.

A importância destas rádios pode ser vista em como elas serviam diferentes públicos:

  • Diáspora Portuguesa: Programas dedicados a manter a ligação cultural e afetiva com Portugal.
  • Comunidades Lusófonas em África: Conteúdos que refletem as realidades locais e promovem a língua e a cultura portuguesas.
  • Marinheiros e Viajantes: Informação e entretenimento adaptados a quem estava longe de casa.

A capacidade de adaptação da rádio pública, desde as transmissões em onda curta até às plataformas digitais atuais, demonstra a sua resiliência e a sua contínua relevância na comunicação global. A RDP Internacional e a RDP África são testemunhos vivos dessa evolução, mantendo-se como vozes importantes para milhões de ouvintes em todo o mundo.

7. O Nascimento da Rádio do Estado Novo

A criação da Emissora Nacional em 1935 marcou um ponto de viragem na forma como a comunicação social era vista em Portugal. Numa Europa cada vez mais influenciada por ideologias nacionalistas e autoritárias, o regime do Estado Novo viu na rádio um instrumento de propaganda com um potencial imenso. A ideia não foi totalmente consensual, e houve um certo atrito entre o setor da música e o Secretariado de Propaganda Nacional. Salazar, para resolver a questão, acabou por nomear um capitão para organizar a rádio estatal.

A Emissora Nacional foi inaugurada a 4 de agosto de 1935, com o objetivo de entreter e, ao mesmo tempo, disseminar a ideologia do regime. A música teve um papel importante desde o início, com a formação de várias orquestras e a contratação de músicos. No entanto, a programação estava sempre sob o olhar atento do Estado, que procurava moldar a opinião pública.

Propaganda era a palavra de ordem, e a rádio tornou-se um veículo para transmitir a visão do regime, muitas vezes nas entrelinhas. A influência do Estado Novo na rádio pública foi profunda, moldando não só o conteúdo, mas também a forma como a informação e a cultura eram apresentadas aos ouvintes.

8. A Rádio Não Se Calava: 90 Anos de História e Comunicação

Ao longo de nove décadas, a rádio pública portuguesa tem sido uma testemunha constante e uma voz ativa na tapeçaria da história do país. Desde os seus primórdios, enfrentou desafios imensos, desde a censura do Estado Novo até à necessidade de se adaptar a novas tecnologias. A sua resiliência é um testemunho da sua importância intrínseca na sociedade.

O percurso da rádio é marcado por momentos de grande relevância, onde a sua capacidade de informar, entreter e unir se fez sentir. A evolução técnica, por exemplo, é um capítulo fascinante desta história. Passou-se das ondas curtas, que permitiam alcançar os confins do império, para o FM, mais acessível e com maior qualidade, e agora para o universo digital, onde o streaming e os algoritmos ditam novas formas de consumo.

Esta adaptação contínua permitiu que a rádio se mantivesse relevante, mesmo perante o surgimento de novos meios de comunicação. A sua capacidade de se reinventar é notável:

  • Adaptação Tecnológica: Transição de tecnologias analógicas para digitais, incluindo a exploração de novas plataformas.
  • Diversificação de Conteúdos: Abrangência de temas que vão desde a informação e cultura até ao entretenimento e música, servindo diferentes públicos.
  • Alcance Geográfico: Manutenção e expansão da sua cobertura, tanto a nível nacional como internacional.

A rádio, em essência, sempre procurou conectar pessoas. Seja através de transmissões que cruzavam oceanos ou de programas que espelhavam o quotidiano das comunidades locais, o seu objetivo primordial tem sido o de dar voz e de ser ouvida.

Este percurso de 90 anos, que pode ser explorado em detalhe numa série documental sobre os 90 anos da rádio pública, demonstra que a rádio não é apenas um meio de comunicação, mas um reflexo vivo da evolução social, cultural e tecnológica de Portugal.

9. Para Além do Som: A Rádio no Digital e Novas Plataformas

A rádio, essa companheira de longa data, tem demonstrado uma capacidade impressionante de se adaptar aos tempos. Se antes o seu alcance se limitava às ondas hertzianas, hoje expande-se para o universo digital, abraçando novas plataformas e formatos. Esta transição do éter para o algoritmo não é apenas uma mudança tecnológica, mas uma redefinição da sua própria identidade e alcance. A internet abriu portas para que a rádio chegasse a públicos que, de outra forma, talvez nunca a tivessem descoberto, incluindo gerações que cresceram sem a experiência do rádio FM como principal meio de comunicação.

As plataformas de streaming, os podcasts e as redes sociais tornaram-se novos estúdios e antenas. A rádio pública, por exemplo, tem explorado estas vias para alcançar a diáspora e públicos em países africanos de língua oficial portuguesa, mantendo um elo afetivo e informativo que a onda curta já não conseguia sustentar com a mesma eficácia. A capacidade de interagir com o ouvinte através de comentários, partilhas e até mesmo a criação de conteúdo colaborativo redefine a relação entre emissor e recetor.

Esta evolução levanta questões interessantes sobre o futuro do meio. Como é que a inteligência artificial poderá moldar a produção e a distribuição de conteúdo radiofónico? Que novas formas de narrativa sonora surgirão neste ambiente digital? A rádio continua a ser, fundamentalmente, a arte de contar histórias através do som, mas as ferramentas e os palcos estão em constante mutação.

Novas plataformas oferecem oportunidades únicas:

  • Podcasts: Conteúdos sob demanda, permitindo aos ouvintes escolher o que, quando e onde ouvir.
  • Redes Sociais: Interação direta com o público, promoção de programas e partilha de momentos em tempo real.
  • Streaming: Acesso global a emissões em direto e a conteúdos arquivados, ultrapassando barreiras geográficas.
  • Vídeo: Integração de elementos visuais em programas de rádio, criando experiências multimédia.

A rádio soube reinventar-se, provando que a sua essência sonora é resiliente e capaz de se adaptar a qualquer meio. A sua presença no digital não é um substituto, mas uma expansão, garantindo que a voz radiofónica continue a ecoar em novas frequências e para novas audiências.

10. A Rádio e o 25 de Abril: Vozes e Memórias da Liberdade

A Rádio Portuguesa desempenhou um papel fundamental na Revolução dos Cravos, servindo como um canal vital para a disseminação de informações e para a mobilização popular. Durante o regime ditatorial, as emissões eram estritamente controladas, mas com a aproximação do 25 de Abril de 1974, as ondas radiofónicas tornaram-se um espaço de resistência e esperança. A transmissão de músicas como "E Depois do Adeus" e "Grândola, Vila Morena", que funcionaram como sinais codificados para o início das operações militares, é um marco indelével na história do país.

A capacidade da rádio de alcançar todos os cantos do território nacional, mesmo em zonas rurais com acesso limitado a outros meios, foi decisiva para a rápida disseminação da notícia da queda do regime. As vozes dos locutores, muitas vezes arriscando a própria segurança, transmitiam os acontecimentos em tempo real, mantendo a população informada e unida.

O período pós-25 de Abril, conhecido como PREC (Processo Revolucionário em Curso), foi igualmente marcado pela intensa atividade radiofónica. As diferentes estações, incluindo a Emissora Nacional (que viria a tornar-se Antena 1), a Rádio Renascença e a Rádio Clube Português, tornaram-se palcos de debates acalorados e da expressão de diversas ideologias. No entanto, este período também foi de instabilidade, com purgas e confrontos que afetaram o panorama mediático.

Memórias da liberdade foram gravadas e preservadas nos arquivos sonoros da rádio, permitindo que as gerações futuras compreendam a dimensão e o impacto deste evento transformador. A rádio não foi apenas um meio de comunicação, mas um participante ativo na construção da democracia portuguesa.

A rádio, com a sua capacidade de penetração e a sua voz direta, tornou-se um símbolo da liberdade conquistada, ecoando os anseios de um povo que ansiava por democracia e justiça social. As suas ondas transportaram não só notícias, mas também a esperança e a determinação de um país em mudança.

Alguns dos momentos mais marcantes da cobertura radiofónica do 25 de Abril e do período subsequente incluem:

  • A transmissão dos comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA).
  • Os relatos em direto das movimentações militares e da reação popular nas ruas.
  • As entrevistas e depoimentos de figuras chave da revolução e de cidadãos comuns.
  • A emissão de músicas que se tornaram hinos da liberdade.
  • Os debates e análises sobre os rumos políticos e sociais do país no pós-revolução.

Um Legado Sonoro para o Futuro

Ao longo desta viagem sonora, explorámos como a rádio, em particular a rádio pública, tem sido uma testemunha e, por vezes, uma protagonista da história de Portugal, especialmente no que toca à liberdade e à democracia. Desde os tempos do Estado Novo, com as suas vozes controladas, até à efervescência do 25 de Abril e à construção da democracia, o som da rádio acompanhou e moldou a nossa perceção dos acontecimentos. Programas como «De Cravo ao Peito» e a série «90 Anos no Ar» mostram que o arquivo sonoro é um tesouro, capaz de nos ligar ao passado e de nos fazer compreender melhor o presente. Esta herança sonora não é apenas para ser ouvida; é para ser estudada e preservada, garantindo que as lições do passado continuam a informar e a inspirar as gerações futuras na valorização da liberdade que tanto custou a conquistar.

Perguntas Frequentes

O que foi o programa ‘De Cravo ao Peito’?

O ‘De Cravo ao Peito’ foi um programa especial da Antena 1 que celebrou os 50 anos do 25 de Abril. Ele contou a história desde os preparativos para a revolução até à construção da democracia nos anos seguintes. Usou gravações antigas e conversas com pessoas que viveram esses tempos para mostrar como chegámos à liberdade que temos hoje.

Como a rádio ajudou a contar a história de Portugal?

A rádio foi muito importante para contar o que acontecia em Portugal e no mundo, especialmente antes da internet. Em 90 anos de história, a rádio transmitiu notícias, músicas e histórias que ajudaram as pessoas a saber o que se passava, mesmo em tempos difíceis como guerras ou ditaduras.

Houve vozes que foram proibidas de falar na rádio?

Sim, durante o Estado Novo, a rádio era controlada e algumas pessoas que não concordavam com o regime tiveram problemas. Por exemplo, o Fernando Pessa e o Igrejas Caeiro foram afastados ou tiveram o seu trabalho limitado por causa das suas opiniões ou por quererem eleições livres.

A música sempre teve um papel importante na rádio?

Com certeza! Desde o início, a rádio pública teve orquestras e músicos. Ela ajudou a descobrir novos talentos e a divulgar a música portuguesa, tanto a clássica como a mais popular. A rádio foi e ainda é um palco para a música.

A rádio conseguia chegar a todo o país?

Antigamente, a rádio pública tinha mais alcance e correspondentes em várias partes do país. Com o tempo, algumas zonas ficaram com menos cobertura de notícias locais. Mas a rádio sempre procurou formas de se ligar às pessoas, mesmo com a chegada de novas tecnologias e rádios mais pequenas e locais.

A rádio ainda é importante hoje em dia?

Sim! Mesmo com a internet e as redes sociais, a rádio continua a ser um meio de comunicação forte. Ela reinventou-se e usa novas plataformas para chegar a mais gente, incluindo os mais novos. A rádio ainda tem muito para contar e para nos fazer companhia.

Ricardo Lopes

Ricardo Lopes

Bio

Licenciado em Linguística pela Universidade de Coimbra

Experiência: Ricardo é um experiente redator e editor, com mais de 14 anos de carreira em diversos meios de comunicação.

Outras informações: Tem um blog onde discute a evolução da linguagem e é colaborador frequente de revistas literárias.

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