Longe vão os tempos
da produção do vulgo desenho animado. Quem não se recorda dos êxitos sucessivos de filmes de animação digital como “À procura de Nemo” e “Shrek 2″”, produzidos pelas duas principais companhias deste ramo, respectivamente a Pixar e a DreamWorks? E também quem é que se esquece dos fracos resultados de bilheteira dos mais recentes filmes de animação tradicional (vulgo desenho animado)? Pois. O que é certo é que por estas e por outras os os responsáveis da Disney decidiram encerrar os estúdios da Florida: pela primeira vez, em mais de sessenta anos, nenhum filme com a técnica tradicional de desenho animado está mais a ser produzido nos estúdios do Rato Mickey.
Os sucessos do passado
Há cerca de uma década, quando ainda se faziam sentir os ecos dos sucessos do desenho animado Disney como “A pequena sereia”, “Aladdin” ou “O rei leão” e até da nomeação, pela primeira vez na categoria principal, de “A bela e o monstro” ao Óscar de Melhor Filme do Ano, seria impensável sequer adivinhar que o futuro rejeitaria o desenho animado. No entanto, terá sido a estreia de “Toy story”, em 1995, filme distribuído pela Disney mas produzido pela Pixar, que viria a gerar a controvérsia.
Nem mesmo John Lasseter, um dos cérebros da companhia, sequer imaginava que em 2004 a “Premiere” americana o colocaria no topo da lista dos cem mais poderosos de Hollywood. Ao mesmo tempo Jeffrey Katzenberg, que tinha estado na origem do ressurgimento da Disney, no último período de ouro, estava já a mudar-se de armas e bagagens para a DreamWorks, de que é fundador curiosamente com outro apaixonado da tradição Disney, Steven Spielberg – onde se viria a dedicar à animação digital depois de algumas experiências não muito conseguidas na animação tradicional sem recurso à computação gráfica.
As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne
Com cópias em 3D e Imax, Steven Spielberg inaugura a parceria com Peter Jackson e a franquia baseada na personagem criada por Hergé na década de 1930.
A primeira decisão acertada foi a captura de movimentos – tecnologia celebrizada por James Cameron em “Avatar”. Mas terá sido a neo-zelandesa Weta Digital, empresa de Jackson, desde o primeiro filme da trilogia “O Senhor dos Anéis”, quem lhe deu o status de arte.
O resultado, como se poderia imaginar, tira a rigidez das personagens do desenho animado e o universo criado por computador fica muito mais convincente.
Ao detalhismo impressionante das cenas, que poderiam facilmente passar por um cenário real, contrastam rostos cartunescos que enfatizam tratar-se de um desenho animado.
A dúvida que persiste:
Será o digital, por princípio, melhor que o tradicional? Esta é uma questão difícil, apesar de uma grande maioria de opiniões convergir para a resposta negativa. E qual a justificação para esta resposta negativa? A justificação, essa, pode ser encontrada num único nome, “A viagem de Chihiro”, exemplo cimeiro de um defensor acérrimo da animação tradicional do desenho animado: Hayao Miyazaki. O que diz ele?
Muito resumidamente, Hayao Miyazaki diz que o que tem vindo a acontecer é que, nos últimos anos, sobretudo na produção americana, as melhores histórias têm sido canalizadas para a animação digital e o desenho animado tem servido quase como um caixote de lixo das histórias que a outra técnica tem monopolizado. Shame on them (digo eu).