Aquele que olha o mar, que o respeita e o adora. Uma adoração sem igual, incomum, incomparável a tudo o que se conhece. Único. Aquele que observa sabe bem a linguagem do mar, e o mar, como ninguém, conhece os seus sentimentos, os seus desabafos, pelas inúmeras conversas que ambos têm. Velhos conhecidos que se encontram sempre que o momento lhos proporciona.
Aquele que o mar ouve sabe bem a sua natureza inconstante, e por vezes temível. Respeita-o e idolatra-o. Não só pela sua imensidão, pela sua força, mas também por este o ouvir. O mar espera sempre por ele, observa-o, um mero devoto reduzido à insignificância do seu tamanho que ali fica a procurar respostas e soluções aos problemas e conflitos que tem atrás das suas costas.
De dúvidas e incertezas está repleta a mente daquele que se perde a tentar, impossivelmente, ver o outro lado do mar. Consegue respirar e entrar numa sintonia pessoal com a música que o mar para ele, naquele momento, canta, mas nunca o poderá igualar. Nem o mar lhe dará a resposta que procura, apenas porque assim o deseja. Sabe que o mar não é de ninguém, não se pode controlar. Bem sabem aqueles que o enfrentam, que de terrível destino se arriscam quando o desafiam, e desrespeitosamente atrevem-se a menosprezá-lo.
Nem o sol lhe resiste, astro de magnificência incomparável, todo-poderoso do vasto azul, até esse, no final do dia, rende-se ao mar, que o acolhe lentamente e o conforta até ao final da noite, quando o deixa novamente rumar aos céus e voltar a reinar. Até lá, o mar deixa as estrelas tomarem conta do território do sol, gosta que estas se espelhem nele.
Disto sabe aquele que vê o mar sabe que não é único, que é e será apenas mais um que o procura. Sabe que ele já cá estava antes dele e que cá ficará para que os seus filhos e netos, tal como ele, desabafem e procurem respostas e conhecimento. Poderá ser mais um, mas sabe do fundo do seu coração, que o mar, sabe quem ele é.
Ele é aquele que contempla o mar.
in: palavrasdescrita