Português, português, português, vamos fala-lo bem?
O português pode ser um cidadão mas também pode ser um idioma. Um idioma de milhões, que nasceu há milhares de anos.
Português, a língua de Camões, de Pessoa, de Eça de Queirós!
Português é fado, é Amália Rodrigues, e é também José Luís Peixoto!
Português é Europa, é América do Sul, é África mas é também Ásia!
Português é uma língua do mundo, falado por milhões que quiseram apropriar este nosso idioma nascido no nosso Portugal.
Português já foi Camões mas evoluiu com o passar dos tempos, e hoje o português são neologismos, mas é também a riqueza dos arcaísmos.
O português é um dos idiomas mais antigos, que está na génese de muitos outros idiomas que também vieram beber ao português.
Português é um idioma com um léxico muito rico, com milhões de palavras mas é também um idioma que, nos últimos anos, tem vindo a ser muito mal tratado e que cada vez mais mal se escreve.
São as conjugações verbais, são as concordâncias, são as especificidades das nossa língua que cada vez mais são ignorados e pisados.
Em bom português, é bonito!
Com a chegada das sms, com a chegada da internet e das redes sociais, assistimos a um fenómeno preocupante – cada vez se lê menos, cada vez mais o livro fica esquecido nas prateleiras, cada vez mais o livro é substituído pelo ipad, pelo telemóvel, pela internet. Hoje em dia, a companhia das grandes viagens, das filas de espera nos hospitais são os telemóveis e os ipads e os computadores, o livro já não é mais a companhia para os momentos de espera.
Estamos em plena Era tecnológica, bem sei e reconheço-lhe imensas potencialidades e reconheço as ajudas que trouxe mas as novas tecnologias proporcionam o empobrecimento da língua, traz um empobrecimento lexical.
As pessoas cada vez leem menos, as pessoas cada vez escrevem menos e quando o fazem, fazem-no dando pontapés na gramática e no nosso português.
A título de exemplo:
1. Com a chegada dos sms e das redes sociais, os “s” e os “ch” foram trocados pelos “x”. É prática comum vermos escrito “Como te Xamas?” (em vez de “chamas”, esta sim a forma correcta), “Hoje eu poXo” (em vez de “Hoje eu posso”)!
2. A letra “k”, que nunca fora uma letra usada no nosso português ganhou lugar de destaque e hoje em dia vemos escritas palavras com essa letra que quase não é nossa, a título de exemplo: Keres; O kê?; Kuando; Komo.
3. Para além da introdução de novas letras na nossa caligrafia, hoje em dia também assistimos a um fenómeno que era típico do português que se fala no Brasil, mas que chegou ao nosso português de Camões e refiro-me ao fenómeno de eliminar os prefixos das palavras, como por exemplo, muitas são as vezes que vemos escrito e ouvimos dizer “tão, ao invés de EStão, tá ao invés de Está”
Mas muitos outros exemplos de pontapés na gramática existem, práticas recorrentes e que serão para sempre uma batalha perdida por todos os que tentam preservar a língua de Camões.
4. Mais um exemplo, são milhões de vezes aquelas em que vemos escrito palavras com o sufixo “mos” separado do verbo principal. Aposto que sabem do que falo, quantas vezes já vimos escrito preciosidades como “ama-mos; come-mos; vi-mos; corre-mos;”. Será esta uma regra difícil de explicar? Será assim tão complexo fazer as pessoas entender que o sufixo “MOS” NUNCA se separa das palavras, não interessa qual o verbo em questão, interessa apenas deixar claro que o “MOS” NUNCA se separa. Mais fácil é impossível, não tem excepções!
5. E quantas vezes vemos erros gramaticais como estes:
“Ontem lavas-te o carro?”, quando o que queria dizer era “Ontem lavaste o carro?”
“Comeste tudo?” e muitas vezes se escreve “Comes-te tudo?”
“Viajas-te para onde?”, quando o que se quer dizer na realidade é “Viajaste para onde?”
Os exemplos são ás centenas, os pontapés na gramática são prática comum e são sobretudo praticados pelas novas gerações. Não será esta uma questão preocupante? Não será esta uma questão de reflexão importante? A questão fica no ar.
Vamos aprender a não errar!
O jornal Expresso preocupado com os pontapés na gramática, decidiu fazer uma resenha dos erros mais comuns e deixa uma ajudinha para todos aqueles que sabem que não sabem falar português correctamente, mas que querem sabe-lo fazer correctamente.
O Expresso publicou um artigo que pode ser uma ajuda extraordinária, que eu passo a citar:
1. EM BAIXO ou ABAIXO
Erro: Vou lá em baixo
Correto: Vou lá abaixo
Explicação: Abaixo refere-se a uma localização, enquanto em baixo se usa para falar de uma posição relativa.
2. ONDE ou AONDE
Erro: Não sei aonde fica a sala do chefe
Correto: Não sei onde fica a sala do chefe
Explicação: A forma mais fácil de evitar este erro é pensar que só pode usar “aonde” em substituição de “para onde”. Por exemplo, “aonde vais amanhã” está correto, mas “aonde deixaste as minhas chaves” é um erro crasso.
3. À ou HÁ
Erro: Terminei o curso à dois meses
Correto: Terminei o curso há dois meses
Explicação: Este é um erro que só se nota na escrita, mas é grave. Para indicar um tempo passado usa-se o verbo haver
4. HAVER ou A VER
Erro: Esse assunto não tem a haver comigo
Correto: Esse assunto não tem a ver comigo
Explicação: Ter a haver é sinónimo de “ter a receber”, enquanto ter a ver significa “dizer respeito a…” Se emprestou dinheiro a alguém que ainda não lhe pagou, pode dizer que ainda “tem a haver esse dinheiro”, por exemplo.
5. IR DE ENCONTRO A ou IR AO ENCONTRO DE
Erro: Isso vai de encontro à minha proposta
Correto: Isso vai ao encontro da minha proposta
Explicação: Estas expressões são completamente opostas. No primeiro caso a ideia é o contrário da minha proposta, enquanto na segunda situação está absolutamente de acordo com ela.
6. COMPRIMENTO ou CUMPRIMENTO
Erro: Com os meus comprimentos
Correto: Com os meus cumprimentos
Explicação: É um erro muito comum, mas comprimento está relacionado com tamanho e não com saudações ou realizações. O que está correto é dizer o comprimento da sala, o cumprimento de prazos e enviar os cumprimentos a alguém.
7. DESCRIMINAR ou DISCRIMINAR
Erro: Descrimine os produtos na nota de encomenda
Correto: Discrimine os produtos na nota de encomenda
Explicação: Descriminar é absolver, é declarar alguém inocente, enquanto discriminar significa distinguir, diferenciar.
8. AUFERIR ou AFERIR
Erro: No final do dia, o empregado deve auferir se os valores da caixa conferem com as vendas feitas
Correto: No final do dia, o empregado deve aferir se os valores da caixa conferem com as vendas feitas
Explicação: Estes dois verbos têm significados diferentes. Aferir é conferir, calcular, avaliar. E auferir é ter, obter, ganhar. Exemplo: no novo emprego ele vai auferir um bom ordenado.
9. QUAISQUERES ou QUAISQUER
Erro: Quaisqueres informações é comigo
Correto: Quaisquer informações é comigo
Explicação: A palavra quaisqueres não existe. O plural de qualquer é quaisquer.
10. DESCRIÇÃO ou DISCRIÇÃO
Erro: Ele age com descrição
Correto: Ele age com discrição
Explicação: Descrição é o ato de descrever alguma coisa, por exemplo, ele fez a descrição da situação. Já discrição significa discreto.
11. EM MÃOS ou EM MÃO
Erro: O envelope deve ser entregue em mãos
Correto: O envelope deve ser entregue em mão
Explicação: Assim como não se diz que alguém “está de pés”, também não está correto dizer “em mãos”. Daí a abreviatura P.M.P, que significa Por Mão Própria.
12. NA MINHA OPINIÃO PESSOAL ou NA MINHA OPINIÃO
Erro: Na minha opinião pessoal deves candidatar-te ao mestrado
Correto: Na minha opinião deves candidatar-te ao mestrado
Explicação: A sua opinião já é uma opinião própria, não precisa de repetir essa ideia.
13. HÁ CINCO ANOS ATRÁS ou HÁ CINCO ANOS
Erro: Há cinco anos atrás ainda estava no secundário
Correto: Há cinco anos ainda estava no secundário
Explicação: É redundante usar “há” e “atrás” na mesma frase, porque o verbo haver já se refere a tempo.
14. SENÃO ou SE NÃO
Erro: Senão consegue entregar o relatório no prazo, avise
Correto: Se não consegue entregar o relatório no prazo, avise
Explicação: Para transmitir a ideia de não conseguir fazer o relatório, o correto é o segundo exemplo. Senão quando escrito numa só palavra tem muitos significados, mas não este.
15. FAZEM AGORA DOIS ANOS ou FAZ AGORA DOIS ANOS
Erro: Fazem agora dois anos que entrei nesta empresa
Correto: Faz agora dois anos que entrei nesta empresa
Explicação: O verbo fazer quando se refere a tempo é impessoal e deve conjugar-se na terceira pessoa do singular.